terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cigarro e pele

Desde 1993, ajudo as pessoas a cuidar da pele, primeiro na UFRJ como pós-graduanda, depois como profissional. Sempre soube ao observar um paciente se ele fumava ou não, e garanto que não era pelo cheiro. Nunca dediquei-me à pesquisa, sou apenas uma médica assistente, mas algo me dizia que isto que eu observava de forma intuitiva tivesse fundamentação científica. Dia destes em minha rotina de estudos, abri o site da Sociedade Brasileira de Dermatologia e lá estava uma palestra sobre pele e tabagismo, do professor Marcus Maia, da Santa Casa de São Paulo, que fundamenta o que eu sempre observei e nunca pude provar. Sendo o tema de utilidade pública, passo a expor aqui um breve resumo.
A responsável pela dependência física dos tabagistas é nossa velha conhecida: a nicotina. Ela contrai os pequenos vasos sanguíneos da pele, tornando-a pálida e opaca. Além disso, o cigarro tem uma substância chamada monóxido de carbono, a mesma que sai do escapamento dos carros. Esta substância ocupa no sangue o lugar que deveria ser ocupado pelo oxigênio, fundamental para a nossa subsistência. E ocupa de forma irreversível. Ou seja, quem fuma vive o tempo todo em hipóxia, em carência de oxigênio. Isso altera as fibras colágenas e elásticas da pele. Em conseqüência, o cigarro provoca um envelhecimento muito mais marcante que o sol. Ainda, a cicatrização é bastante afetada, o que prejudica inclusive os bons resultados de cirurgias e procedimentos estéticos. O cigarro também interfere na imunidade, o que afeta o prognóstico de tumores de pele e de outros órgãos. Marcadamente, o câncer de boca é bem mais freqüente em fumantes, e mais ainda se o álcool também estiver presente.
Saibam ainda que o metabolismo do hormônio feminino é afetado pela nicotina, o que torna as conseqüências do tabagismo piores para nós mulheres. Isso sem falar do prejuízo ao bebê durante a gravidez e aleitamento. Portanto, se é verdade que ninguém deve fumar, mulheres devem menos ainda.
O que mais me impressionou foi um trabalho que eles realizaram junto com a pneumologia que estabelece uma correlação entre as alterações dermatológicas e as alterações pulmonares dos fumantes. Ou seja: quanto mais envelhecida está a pele pela nicotina, mais afetado está o pulmão, no caso pela DPOC, vulgo Enfisema Pulmonar.
Há outras conseqüências, expus apenas algumas delas. Parabenizo aqui publicamente a Equipe da Santa Casa de São Paulo, pelas brilhantes observações. Concordo plenamente que o dermatologista deva juntar-se à luta contra o tabagismo. E alerto a você, caro leitor: NÃO FUME. Cigarro mata. E envelhece também.

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